Terça-feira, 4 de Março de 2008

2

Cá fora, enquanto os homens das mudanças continuam a carregar caixotes para dentro de casa, e José agarra noutra televisão, surge junto dele Tomás, o seu novo vizinho.

Tomás aparenta ter a mesma idade que José, tem um rabo de cavalo, é magro, usa roupa clara e larga, e sandálias.


Tomás

Então? Tá'se bem? Querem uma ajuda? - pergunta a José.


Entretanto chega Madalena.


Madalena

Não me tinham dito que iam ter um vizinho assim tão simpático- diz sorrindo para Tomás.

José

Ainda não o conheces! Não o deixes levar os caixotes que têm comida! - diz num tom sério.

Tomás

És um brincalhão. - diz para José - Como está? - diz, dirigindo-se a Madalena - Sou o Tomás, amigo e colega de trabalho, aqui do José.

Madalena

Como é que nós ainda não nos tínhamos conhecido? -diz, sorrindo.

José

Não conheces já falhados que chegue? - diz, enquanto põe nos braços de Tomás um caixote e se prepara para dar outro a Madalena.

Madalena

Não ligue ao que ele diz, é só da boca para fora. Eu sou a Madalena e é um prazer conhecê-lo. - diz, ao mesmo tempo que José apressadamente, lhe põe um caixote nos braços.

Tomás

Bom, agora que já nos apresentámos que tal deixarmos isso do você. Afinal, tu pouco mais velha do que eu deves ser. - diz, enquanto os três se dirigem, carregados, para o interior da casa.

Madalena

Ahhhhh…..Pois….Estes fatos de treino realmente tornam-me mais madura. - diz, meio envergonhada.

Tomás

E eu sempre tive um fascínio por mulheres mais velhas do que eu. - diz, com ar de conquistador.

Madalena

Já disse que é do fato de treino...e talvez do cabelo por arranjar. - diz, um pouco irritada.

José

Como é que tu consegues conquistar mulheres, sem pagar? - diz a Tomás.

Tomás

O que te vale é que eu a ti perdoo-te tudo. - diz a José- Sabias que foi graças a ele que somos vizinhos? - pergunta a Madalena - Bom...a ele não. À Maria. Foi ela que me falou do belo negócio que iam fazer, com a compra desta casa, e me informou que, mesmo ao lado, existia este belo lote que agora é meu. Mas a preocupação deste amigalhaço comoveu-me: “Que era longe do emprego!” “Que era uma casa grande demais para uma só pessoa!” “Que não me queria ver também aos fins de semana!” Como se eu acreditasse nisso! E agora aqui estamos. Prontos para começar a viver uma nova etapa da nossa vida. Juntos e felizes. Quem sabe até morrermos! - diz, enquanto se encosta a José.


José, depois de ouvir Tomás, dá meia volta e dirige-se para o carro das mudanças, com um caixote nos braços.


Madalena

José, onde é que vais com os caixotes? Estás parvo ou quê? - grita.


José dá novamente meia volta e entra em casa, dirigindo-se à sala onde está Maria a dar instruções, aos homens das mudanças, sobre o sítio correcto onde devem deixar os móveis.


José

Fica a saber que o facto de ter que aturar este gajo para além do emprego (diz, enquanto aponta para Tomás que está na conversa com Madalena na cozinha) te vai ainda custar muito caro - diz para Maria.

Maria

Deixa de ser implicante! Ele não é assim tão mau! Até a tua irmã ficou interessada nele...

José

Queres melhor argumento que esse?

Maria

Deixa-te disso, e toca mas é a trabalhar! A Joana ainda dorme no carro?

José

Sim. Quanto mais dormir mais podemos trabalhar sossegados.


Ouvem-se barulhos, vindos da cozinha, de coisas a partir. José e Maria dirigem-se para lá a correr.


Madalena

Mais uma piada estúpida dessas, e será com algo mais pesado que levas. - diz, irritada, a Tomás, ameaçando-o com uma saladeira de cristal.

Tomás

Mas que mulher mais sensível! Há quanto tempo não tem um homem? - pergunta a José.


José chega a tempo e evita que Madalena envie a Saladeira, contra Tomás. Madalena sai de seguida da casa.


Tomás

Espero que ela não tenha partido nada de importante…. - diz, olhando para os cacos no chão da cozinha.

José

Não! Trata-se apenas da loiça onde costumávamos comer. É apenas uma questão de passarmos a comer em loiça de plástico! - diz irritado.

Tomás

Porreiro! Agora até nisso vamos ser iguais. - diz, com uma sincera felicidade.


Maria evita que José envie o saladeira, contra Tomás. Agarra depois no braço de Tomás e trá-lo para fora de casa, deixando José a dizer asneiras na cozinha. Maria tenta dissuadir Tomás de continuar a ajudá-los, aí apercebe-se de algo estranho na casa ao lado, na casa de Tomás.


Maria

Tomás, se calhar o melhor é ires ver porque razão está a sair fumo da tua janela, e deixares as arrumações por nossa conta. - diz, apontando para a casa de Tomás.

Tomás

Aquilo não é nada. Trata-se apenas de incenso para purificar a casa.

Maria

Tens a certeza que não andas a cheirar incenso a mais?

Tomás

Bom, talvez seja melhor ir lá tirar uns paus, porque não quero que chamem os bombeiros, outra vez. - diz, após olhar para Madalena, a qual vinha carregada com um bengaleiro.

Maria

Outra vez?! - diz, enquanto Tomás corre para casa.


José junta-se a Maria e a Madalena, e ficam os três, no seu pequeno quintal, a olhar para o fumo negro que sai da casa de Tomás.

publicado por Luis às 16:22
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

."Capítulos"

. 20

. 19

. 18

. 17

. 16

. 15

. 14

. 13

. 12

. 11

. 10

. 9

. 8

. 7

. 6

. 5

. 4

. 3

. 2

. 1

.arquivos

. Junho 2008

. Maio 2008

. Abril 2008

. Março 2008

blogs SAPO

.subscrever feeds