Terça-feira, 4 de Março de 2008
São interrompidos por Joana, a filha de 5 anos de José e Maria, a qual chega ainda a esfregar os olhos.
José
Então filhota, acordaram-te? - diz, enquanto a agarra ao colo.
Joana
Já estamos na casa nova?
José
Claro, olha bem para ela! Não é melhor que o apartamento? - diz, enquanto rodopia, com ela nos braços.
Joana
Aqui não temos vizinhos barulhentos por cima, não é pai?
José
É verdade. Só temos de lado - diz olhando para a casa do vizinho, onde se ouve um extintor a trabalhar.
Maria
Olha. Vai brincar no teu jardim novo, enquanto nós arrumamos o resto das coisas. - diz, enquanto a tira dos braços de José e a põe no chão.
José olha, espantado, para a casa de Tomás, de onde agora, sai um fumo branco e se continua a ouvir o barulho de um extintor.
Joana
Quem é aquela menina?- pergunta a Maria, apontando para uma adolescente que se encontra afastada de toda aquela confusão, mas suficientemente perto para já ter uma ideia sobre a personalidade dos novos moradores do bairro.
Maria
Não sei. Porque não vais lá perguntar?
Joana dirige-se a Alice, uma adolescente de 13 anos de olhos tristes.
Joana
Olá. Quem és tu?
Alice
Se eu conseguisse responder a essa pergunta seria feliz. - diz, meio a sorrir.
Joana
És esquisita. Gosto de ti. Queres vir brincar comigo?
Alice
E eles? - diz apontando para a confusão.
Joana
Eles também são esquisitos, mas não me parece que queiram brincar connosco.
Alice ri-se da sinceridade de Joana.
Alice
Acho que também gosto de ti.
Joana
Anda. Vamos brincar às bruxas. Nós somos as bruxas e eles são os nossos criados e nós vamos mandá-los acartar coisas para a nossa casa nova. - diz, enquanto agarra nas mãos de Alice e juntas correm para o quintal da nova casa.
Mais tarde, no andar superior da casa nova, Maria e José estão no seu novo quarto. Maria está a arrumar roupa e José está a montar a cama. Maria olha pela janela (a qual dá para o quintal) e pára um pouco para ver Alice e Joana a brincar.
Maria
Tens reparado como aquela rapariga, Alice, se dá lindamente com a nossa filha? - diz a José.
José
Sim. Gostei particularmente quando ela disse, à nossa filha, para deixar de me chamar escravo pançudo. - diz, enquanto vai aparafusando algo.
Maria
O que achas de a convidarmos para almoçar?
José
Tudo bem. Mas conheces os pais dela?
Maria
Não. Mas vou falar com ela.
Maria desce, e vai para o quintal, dirigindo-se a Alice. Alice levanta-se do chão e olha com alguma timidez para Maria.
Maria
Alice, queres almoçar connosco? É uma forma de te pagarmos o facto de teres aturado esta reguila toda a manhã. - diz enquanto faz festas na cabeça de Joana - Achas que os teus pais se importam?
Alice
Não quero maçar. - diz, enquanto encolhe os ombros.
Maria
Não maças nada. Queres que eu fale com os teus pais?
Alice
Não é preciso. Eles não estão cá hoje. Só voltam…bem tarde….muito à noite. - diz, meio atrapalhada.
Maria
Estás sozinha? Bom, se é assim e se achas que eles não se importam, até podes cá jantar. Está combinado?
Alice diz que sim com a cabeça.
Maria regressa para junto de José, um pouco apreensiva. José encontra-se sentado a tentar encaixar as tábuas da cama.
Maria
Há ali qualquer coisa que não me cheira bem.
José
Já começaste a fazer o almoço? - diz, enquanto cheira o ar.
Maria
Deixa-te disso! Estou a falar da Alice. Quando lhe falei dos pais….não sei…algo de estranho se passa.
José levanta-se e dirige-se à janela do quarto.
José
Mais estranho do que aquilo? - diz enquanto aponta para o quintal da casa de Tomás.
Aí vê-se Tomás, em tronco nu e em aparente meditação, rodeado de cristais tendo por cima de si uma pequena pirâmide de plástico, a qual está presa ao alpendre da sua casa).
Maria chega junto de José, ficando os dois alguns segundos a olhar para Tomás.
José
Temos que pensar em mudar de casa, o mais rapidamente possível.