Quarto de José e Maria. Luzes apagadas, escuridão total.
Ouve-se um suspiro, depois o silêncio volta. Outro suspiro seguido de silêncio. Surge um terceiro suspiro, forçado e num tom mais elevado.
José
Porra, para que foi esse beliscão? - pergunta irritado.
Maria
Para ver se afinal sempre tens alguma sensibilidade. Estava com dúvidas. - diz, com ironia.
José
Porra! Aleijaste-me! Afinal o que se passa?
Maria
Não sei....- diz, ficando à espera da reacção de José, vendo que este continuava calado e a esfregar o braço, continuou – Mas, tanta coisa hoje: as mudanças, a Alice, o Tomás e a Madalena. Comecei a ficar com medo.
José
Medo?! Medo do quê?
Maria
Parece que estamos a começar tudo de novo. E isso assusta-me.
José
Assustada!? Tu que odeias rotinas?!
Maria
Foi muita coisa ao mesmo tempo. E sinceramente, a reacção da Alice, angustiou-me muito.
José
Já falámos sobre isso. A moça deve lá ter os seus problemas, mas o mais certo é não ser nada de especial. Aquilo é o início da adolescência. Devias de saber isso melhor que ninguém, afinal dás aulas a miúdos da idade dela.
Maria
Por isso mesmo. Aquilo não foi uma reacção normal. Vi algo de assustador nos olhos dela.
José
Não comeces a fazer disso uma novela. Cá para mim a moça tinha encontro marcado com o namorado, e por isso queria sair sozinha.
José
Não fiques assim mulher. É de noite, estamos todos cansados, a casa está toda desarrumada e é normal que tudo isso te deixe angustiada. Amanhã é um novo dia. Vais ver como vais acordar melhor.
Maria
Sim. Talvez tenhas razão.
José
Claro que tenho razão. - e, sentido-se encorajado pelas palavras de Maria – Podíamos estrear o quarto novo! Que dizes?! - pergunta enquanto a vai acariciando com as suas mãos.
Maria
Sinceramente, o toque de pensos rápidos no meu corpo não é algo que me excite. - diz, sorrindo.
José
É o resultado de um dia árduo de trabalho! - diz, puxando Maria para si – O qual, tem que ter as suas recompensas. - termina beijando-a.
Os beijos continuam e José aproveita e fecha a luz. Surgem agora outros tipos de suspiros.
De repente um barulho e um grito. José abre a luz e ambos olham em redor. As tábuas da cama não aguentaram e estão agora em cima de um colchão que repousa no chão do quarto.
Maria
Porque é que não deixaste o Tomás montar a nossa cama? - diz, irritada.
José
Porque esta é a nossa cama. Porra, não ia deixar o gajo tocar no nosso leito de amor! - diz, ofendido.
Maria
Amor. - começa, agarrando na cara de José e forçando-o a olhar para os seus olhos – Amanhã pedes ao Tomás para vir montar a nossa cama, e aí de ti que penses em montar sozinho os candeeiros de tecto, ou os apliques de parede.
José
Mas eu gosto de fazer esse tipo de trabalho. - diz, triste.
Maria
Mas já todos nós sabemos, que as tuas mãos são TOTALMENTE desajeitadas, para tudo o que envolve perícia manual. - diz, carinhosamente.