No quarto de Madalena:
Maria
Posso? - diz, espreitando pelo porta do quarto.
Madalena está a tirar as suas roupas, das gavetas, armários e roupeiro, e a colocá-las em malas, enquanto vai fungando. Maria entra e coloca-se ao seu lado, tentando não atrapalhar o trabalho de Madalena.
Maria
Sabes que aquilo não foi sentido, não sabes? Aquilo foi uma baboseira que ele disse, e que de certeza já está arrependido.
Como resposta recebe apenas mais uma fungadela de Madalena. Maria senta-se na cama enquanto vai olhando para Madalena a arrumar as roupas na mala.
Maria
Sabes que eu não te vou deixar partir, não sabes?
Madalena pára e olha para Maria, com os olhos prestes a rebentar em lágrimas.
Maria
Só estou a dizer isto, para tentar evitar que depois, tenhas mais trabalho a voltar a arrumar a tua roupa nos armários. - diz, com um sorriso.
Madalena começa a chorar e Maria abraça-a
Maria
Vá, não fiques assim. O teu irmão vai pagar bem caro por isto.
Maria olha para ela de frente
Maria
Mulher – diz, decidida – Não te deixes abater por aquele que a partir de hoje se vai chamar José “O Casto”.
Madalena sorri
Madalena
Não sei como é que o consegues aturar.
Maria
Porque tu sabes, tão bem quanto eu, que por debaixo daquela fachada de parvo, está alguém sensível e que se preocupa com as pessoas.
José
Estão a falar de mim? - pergunta com a cabeça sobressaindo da porta do quarto de Madalena.
Maria dirige-se para fora do quarto enquanto José entra.
Maria
Vou ver da Joana, e explicar-lhe a paciência que todos nós temos que ter para aturar o pai dela. -diz, enquanto manda olhares não muito meigos, a José.
José espera que Maria saia e depois, pouco à vontade, começa a olhar em volta. Repara nas malas cheias de roupa.
José
Pensava que já tinhas arrumado as roupas nos armários. - diz, pouco à vontade.
Madalena não reage.
José
Tu sabes que às vezes sou um bocado parvo. Digo coisas sem pensar nas consequências. Devia de ter um sistema qualquer que me desse choques, sempre que faço algo assim. Talvez assim aprendesse.
Madalena dá mais uma fungadela
José
Não dizes nada?- pergunta, cuidadosamente.
Madalena
Quando discordar do que estás a dizer, falo.
José suspira
José
Aquilo que te disse foi estúpido, indecente e sei que te magoei muito. Soube-o no momento em que o acabei de dizer, mas infelizmente, já era tarde.
Madalena
Não me magoaste assim tanto. Apenas.... - diz, terminando com mais uma fungadela.
José
Apenas o quê?
Madalena
Apenas me fizeste encarar a realidade. E a realidade é que estou perdida. Não sei o que fazer à minha vida. Com 33 anos sai de casa dos meus pais, para vir viver com o meu irmão....- diz, terminando a chorar.
José abraça Madalena.
José
Não me faças isso. Nunca sei o que fazer quando uma mulher começa a chorar.....Não te preocupes, eu vou-te ajudar a ires viver para outro lado.....– diz, atrapalhado – .....Não era bem isso que eu queria dizer....Podes ficar aqui a viver para sempre.... (Madalena continua a chorar) Pronto...para sempre não...até tu quiseres.......
José olha directamente nos olhos de Madalena
José
Prometo que te vou ajudar.
Madalena pára de chorar e limpa os olhos, sorrindo devido à atrapalhação sincera de José. José sorri de volta.
José
Nem que eu tenha que pagar a alguém para te fazer feliz, e tu sabes como eu sou forreta. - diz, sorrindo.
Madalena
E tens sempre as palavras certas na ponta da língua – diz, com ironia.
José
Só disse isso para reforçar o quanto te quero ajudar. - diz, atrapalhado.
Madalena
Sim, eu sei. - diz, enquanto dá um beijo a José.
José
Deixa-me ajudar-te a arrumar a tua roupa no armário. - diz, enquanto se dirige às malas de Madalena.
Madalena
Não é preciso. Eu não me vou embora. Prometo. - diz, sorrindo.
José
Eu sei. Mas quero ajudar-te na mesma. - diz, enquanto vai tirando roupa da mala de Madalena e enfiando-a em gavetas e no roupeiro.
Madalena
Deixa isso. Eu arrumo. - diz, com alguma preocupação com o pouco cuidado que José está a ter com a sua roupa – Estás desculpado. Não precisas de fazer mais nada. - termina, tirando das mãos de José uma série de roupa.
José
Mas eu quero ajudar-te. Aliás, podes deixar-me aqui sossegado que eu arrumo tudo sozinho. Prometo que ficas com a roupa e o quarto bem arrumadinho.
Madalena
Se fosse para fazer as coisas como deve ser, isso implicava ficares aqui o dia inteiro.
José
Exactamente. E até tranco a porta para ficar sossegado.
Madalena
E assim não tinhas que encarar a Maria, certo? - diz, rindo.
José
Mas ficavas com tudo arrumadinho e, com alguma sorte, ela esquecia-se do que se passou.
Madalena
Tens medo da tua mulher? - diz, provocando-o.
José
Medo? Claro que não. Fico é preocupado com a nossa filha. Não é bom para ela ver a mãe irritada com o seu pai.
Madalena
Pois! Sê homem e vai enfrentar as tuas asneiras. - diz, enquanto o empurra para fora do quarto.